Eletronuclear envia à Cnen reavaliação de segurança de Angra 1 e 2

08/05/2012 15:51

A possibilidade de deslizamento de encostas, em decorrência de chuvas de grande intensidade, é o principal evento de risco identificado pelos estudos de reavaliação de segurança da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAA), realizados pela Eletronuclear, informou o assessor técnico da diretoria Técnica da Eletronuclear, Paulo Carneiro, durante o Seminário sobre Energia Nuclear, Aspectos Econômicos, Políticos e Ambientais, promovido pelo Laboratório de Geografia Física do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). As conclusões dos estudos de risco já realizados e as perspectivas de resultados dos estudos em andamento estão reunidas no “Relatório de Avaliação de Resistência das Usinas Nucleares Angra 1 e Angra 2 para as Condições do Acidente de Fukushima”, submetido pela empresa à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), no último dia 2 de abril.

A reavaliação realizada pela Eletronuclear aborda três questões principais. A primeira é a capacidade da central de Angra de resistir a eventos externos de grande severidade, como catástrofes naturais, sem que o funcionamento dos sistemas de segurança seja afetado. A segunda avaliação refere-se aos meios alternativos de que dispõe a instalação para garantir o desligamento seguro do reator e o resfriamento do combustível armazenado na piscina, mesmo que o funcionamento dos sistemas de segurança tenha sido impactado pelo evento externo. E o terceiro nível de análise refere-se às medidas para minimizar as consequências radiológicas, caso os danos ao reator não possam ser evitados.

Ao abordar a capacidade de resistência da instalação, Carneiro destacou as condições favoráveis apresentadas pelo sítio da central, particularmente, as características geológicas da costa brasileira, que permitem excluir a possibilidade de ocorrência de tsunamis. “O tsunami ocorre em regiões de borda de placas tectônicas com movimento de sobreposição. Já o território brasileiro está localizado em região intraplacas, distante do encontro de bordas de placas tectônicas. Além disso, a placa tectônica sul-americana está em movimento de afastamento da placa africana, no Atlântico Sul”, explicou. Outra condição favorável da central de Angra, segundo ele, é a proteção natural proporcionada pela Baía de Angra, que forma uma primeira barreira contra movimentos no oceano.

Já em relação ao risco de inundação, Carneiro explicou que, apesar da CNAA estar localizada em uma região de chuvas intensas, os prédios da central foram projetados para resistir ao impacto de um deslizamento de grandes proporções. “O pico de intensidade das chuvas que castigaram a região serrana foi de 80 milímetros por hora (mm/h) e a maior chuva já registrada em Angra foi de 110 mm/hora. Já o projeto da central prevê chuvas com intensidade de 311 mm/hora”, garantiu. Mesmo assim, adiantou que Eletronuclear está implantando melhorias para aumentar as margens de segurança da central para o enfrentamento de inundações.

Os estudos realizados pela Eletronuclear consideram um cenário de ruptura total das encostas. Os modelos utilizados mostraram que o deslizamento não teria impacto direto nos prédios, mas poderia afetar os canais de drenagem. Embora a cota de inundação atingida (45 centímetros) ainda esteja dentro da base de projeto da central, a empresa deverá elevar a margem de segurança de Angra 1. Já Angra 2 tem proteção para cotas de até oito metros.

Segundo Carneiro, a reavaliação considera que as usinas deverão dispor de meios para resfriar o reator e o combustível armazenado mesmo em condições extremas de perda de todo o suprimento de energia elétrica, inclusive o proveniente de fontes externas. Nesse sentido, o estudo prevê a compra e instalação em áreas protegidas, até o final do ano, de conjuntos de sistemas móveis de suprimento de energia, como geradores diesel, moto-bombas e compressores, e uma unidade móvel para preenchimento e resfriamento da piscina de combustível de Angra 1.

 

Demanda de energia

Durante a mesa-redonda sobre as questões econômicas, políticas e ambientais que envolvem o planejamento energético no Brasil, o coordenador do Laboratório de Termociências e Energia (LTE) e chefe do departamento de Engenharia Mecânica da UERJ, Manoel Antonio da Fonseca Costa Filho, disse que embora defensor das energias renováveis – solar, eólica e biomassa -, reconhece as limitações dessas fontes. Posicionando-se em relação à presença da energia nuclear na matriz energética, ele disse ser a favor “não de uma ampliação exagerada do parque nuclear, mas uma ampliação exageradamente segura”.

O diretor de Estudos de Energia Elétrica da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) do Ministério das Minas e Energia, José Carlos Miranda Farias, disse que é preciso olhar a energia nuclear com menos emocionalismo devido a sua importância em áreas como a medicina e afirmou que os projetos de usinas nucleares são cada vez mais seguros. No entanto, informou que o Plano Decenal de Energia, elaborado pela EPE, não prevê uma expansão do parque nuclear além da usina Angra 3. Isso acontece, segundo ele, porque quando o Plano foi elaborado, o prazo previsto para implantação de uma usina nuclear era de 10 anos, o que ultrapassava o horizonte desse planejamento. Mas admite uma mudança, devido ao avanço tecnológico na área de reatores. “Não havia espaço de tempo para, nos próximos 10 anos, contemplarmos uma usina nuclear. Agora, pode ser que, com a disponibilidade de novos reatores como o AP1000 da Westinghouse, que está em processo de desenvolvimento, esse prazo caia para oito ou, talvez, sete anos, o que permitirá a presença de usinas nucleares no plano decenal”, explicou.

Segundo o representante da EPE, a matriz energética brasileira é bastante diversificada, contemplando as fontes hidrelétrica, nuclear, gás natural, carvão mineral, óleo combustível, óleo diesel, as pequenas centrais hidrelétricas, biomassa e eólica. Ele informou que está previsto um crescimento médio anual de 4% no consumo de energia elétrica no país e que, para atendê-lo, o Plano Decenal propõe uma expansão de todas as fontes de energia, principalmente das renováveis como a energia eólica, que deverá passar de 1%, em 2011, a 7,6% em 2020.

O superintendente da Eletronuclear para Novas Usinas, Drausio Lima Atalla, chamou a atenção para a necessidade de o país dobrar a sua capacidade de geração de energia para adentrar o grupo dos países desenvolvidos. “Ao examinarmos a relação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o consumo per capita de eletricidade, vemos que os países com IDH mais alto como EUA, Japão, Noruega, Canadá e Austrália, têm um consumo de eletricidade (kWh/pessoa.ano) também maior. O Brasil, com um consumo anual por habitante de 2.081 kWh está na 90a posição, abaixo do Chile e Argentina, e com a metade do consumo de Portugal, que é de 4.375 kWh. Na minha visão, somos pobres em eletricidade”, afirmou. Em sua opinião, o planejamento energético brasileiro poderia ousar “e aproximar um pouco mais no presente o dia em que nós vamos consumir no mesmo nível que os cidadãos dos países desenvolvidos”.

Ao comentar as projeções do Plano Nacional de Energia (PNE-2030) para o período 2015/2030, Atalla disse que a energia nuclear pode vir a ser uma das fontes de sustentação de base do sistema elétrico brasileiro, argumentando que o potencial da geração hidráulica se esgotará ao longo da década de 2020 e que as fontes renováveis (eólica, solar, PCH, biomassa) são complementares, além de descontínuas e dispersas. “A energia nuclear não é a solução para o problema energético do país, mas parte da solução”, afirmou.

Em relação ao preço das fontes energéticas, Drausio Atalla acusou o desnivelamento entre as diferentes fontes nos leilões de comercialização. “As fontes hidráulica, renovável e fóssil têm expressivos custos escondidos, que não entram na tarifa, mas são pagos pelos consumidores. Grande parte dos custos de transmissão da energia hidráulica e dos custos de combustível da energia fóssil são socializados. E a energia eólica não é de base, o que traz uma assimetria de qualidade da eletricidade”, explicou. “Já a energia nuclear é concentrada, contínua e, em bases niveladas, competitiva com as demais fontes de energia no mercado brasileiro, inclusive as hidráulicas distantes dos centros de consumo”, completou.

Moderador da mesa-redonda “Chernobyl e Fukushima: Impactos Socioambientais e o Futuro das Usinas Nucleares”, o médico Nelson Valverde, colaborador em emergências radiológicas da Organização Mundial de Saúde e da Agência Internacional de Energia Atômica e ex-coordenador do Centro de Radioacidentados da UERJ, alertou para o aumento dos riscos de exposição à radiação ionizante provocados pela disseminação de exames diagnósticos:

- As doses para o público provenientes da operação de uma central nuclear não se comparam com as doses de radiação que nós recebemos hoje em dia, por exemplo, em procedimentos médicos de diagnóstico. Nós, médicos, estamos irradiando demais os pacientes, especialmente com a tomografia computadorizada. Eles estão sendo expostos a doses muito elevadas de radiação

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